“By ignorance we mistake, and by mistakes we learn” – I hope!


Em primeiro lugar, sempre achei aberrante que em Portugal ainda se debata a legitimidade do Fantástico, quando este já o fez per si. Tais considerações apenas servem para lançar dúvidas nos menos esclarecidos. Não tenham dúvidas, o Fantástico ( como expressão da artística da imaginação ) é um dos pilares da Humanidade. É-nos tão necessário e essencial como o próprio conhecimento científico. Um desconhecido chamado Einstein concordava comigo:“The gift of fantasy has meant more to me than my talent for absorbing positive knowledge.” A meu ver, estar preso ao que é tido por “real”, renegando o Fantástico para o campo da “palermice infantil” não é prova de siso nem de maturidade intelectual, antes de uma colagem a uma mentalidade mais própria dos prossímios do que propriamente dos sapiens.

Recordo agora um conhecido meu que tendo tais “tiques” discriminatórios, dizia reger a sua conduta por um livro que mantinha à cabeceira, uma obra que vejo como exemplo do Fantástico, quer se considere ou não “sagrada”. Sim, o Inferno espera-me por tais afirmações! Ou não… 😉

Há Fantástico e Fantástico! Mas a existência de obras de qualidade “questionável” nunca poderá colocar em causa o Género. Essa óbvia constatação não invalida, no entanto, uma análise qualitativa (comparada, consciente e fundamentada) do que vai surgindo no “cardápio”.

Não deixa de ser confrangedor que qualquer “desacordo” dentro do Fantástico, assuma de imediato a aparência de “um contar de espingardas” para uma iminente guerra apocalíptica, constantemente adiada para data incerta.

O Fábio Ventura esteve mal. Muito mal. Os críticos do Fantástico devem ter esfregado as mão de contentes! Imaginem um político vir dizer que só o é por ser infantil e não saber fazer mais nada! A leviandade paga-se cara, tal como a inconsciência. Acredito que as entrevistas sejam um bom tónico para a ego, mas contendo declarações que se irão tornar públicas, devem ser bem ponderadas – o que chega até a exigir preparação prévia, caso não haja o background que permita um seguro à-vontade nessas ocasiões. Caso contrário, vale mais permanecer em silêncio. Poupa-se assim o público a disparates e o próprio entrevistado a futuras vergonhas.

O David Soares, muitas vezes criticado pela sua agressividade – talvez por saber que está num “mundo cão” em que qualquer veleidade é tida por fraqueza, logo aproveitada pelos muitos predadores -, acabou por ser rapidamente investido no papel  de “Pôncio Pilatos” do Fantástico. Dando ênfase à ideia de ataque pessoal e ao estilo “duro” do David, muitos esqueceram ou não perceberam que ele está, afinal, a defender o próprio Fantástico. Algo que a maioria não faz, nem tem o que é preciso para fazer. O David fez o que maioria esquece- defender o Fantástico!

PS: A verdade é que vejo muita gente perder-se em intermináveis conversas de chacha e nunca a defender o Fantástico. Aliás, quando alguns tentam falar de literatura, acabam por ficar a falar sozinhos. Na verdade, muitos “escritores” são completamente amorfos em relação a temas que ultrapassem as conversas de circunstância. Isso não merece também alguma reflexão?

PS2: Não escondo nem nunca escondi que tenho 4 ou 5 autores de Fantástico portugueses que respeito, seja pela qualidade da escrita, pela criatividade ou até pelo background e cultura geral que evidenciam. Lamento muito, mas considero estes elementos como sine qua non. Não procuro “encaixar” em facções – tenho a minha objectividade e os meus conhecimentos. Tanto elogio um desconhecido, como critico um amigo – julgo que outros deveriam trilhar esta imparcialidade.

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20 respostas a “By ignorance we mistake, and by mistakes we learn” – I hope!

  1. Concordo que Ventura teve uma escolha infeliz de palavras (partindo do princípio que não foi um daqueles casos em que o entrevistado diz uma coisa e é publicada outra, como todos já vimos acontecer), porém, a meu ver, o único prejudicado foi ele.

    Não obstante, que venha essa guerra apocalíptica. Agora, que cada um entenda que a irá enfrentar sozinha, munido com suas ideias e trabalhos, em vez de alinhar em facções.
    É como dizes: “Tanto elogio um desconhecido, como critico um amigo – julgo que outros deveriam trilhar esta imparcialidade.” Penso que essa é a única maneira de se ser honesto.

    • Tu queres é sangue! 🙂 Mas também acho que cada um devia ir à luta sozinho, sem mercenários.
      Honesto e amigo! Porque vou mentir a um amigo se nem a um estranho o faço? A melhor maneira de o ajudar é ser honesto. Muita gente, em vez de bradar logo por S. Jorge ou Santiago, devia era ter digo ao rapaz: “olha, realmente disseste um disparate. Já pensaste como podes remendar isso?”

  2. Um leitor diz:

    O leitinho hoje de manhã tinha algo mais que café e açúcar né?

    Então o fantástico sai a perder com o comentário? Porque raio? Alguém conhece o moço e dá importância ao que diz? E se derem, então é porque percebem muito pouco de livros. E o menino David estava traumatizado porque já há meses que ninguém lhe ligava ou falava dos seus livrinhos, por isso, ganhem juízo e dêem importância ao que interessa.

    • O cálice de tinto da tarde também devia ser de vinho a martelo, né?

      “Porque raio?” É uma pena não poder colar aqui desenhos do paint!

      Não sei porquê mas tenho a impressão que o “que interessa” deverá estar relacionado com o autor do comentário. Acertei?

  3. É sempre bom rever as leituras para não incorrer em interpretações que em nada correspondem ao dito, como acontece com a que faz da resposta do Fábio.

    «Tanto elogio um desconhecido, como critico um amigo – julgo que outros deveriam trilhar esta imparcialidade.», isto só pode ser uma piada. Se calhar deveria escrever joke para “fazer pendant” com o provérbio em inglês que dá o título ao comentário.

  4. Eu já me estou a rir e não é do “pendant” nem de nenhuma outra peça de joalharia!

  5. Compreendo perfeitamente. Deves ter acabado de reler esta bela frase da tua pena: «Dando ênfase à ideia de ataque pessoal e ao estilo “duro” do David, muitos esqueceram ou não perceberam que ele está, afinal, a defender o próprio Fantástico. Algo que a maioria não faz, nem tem o que é preciso para fazer. O David fez o que maioria esquece- defender o Fantástico!». Se a tivesse escrito também estaria a rir da figurinha feita. Confundir defesa de género com narcisismo, é como confundir a velocidade com toucinho. Assim o gosto para jóias fica definitivamente comprometido.

  6. Os anéis não aperfeiçoam as aptidões dos dedos nem os diademas iluminam os espíritos. Com ou sem narcisismo, o reparo foi válido. Confundir ódios pessoais com objectividade, isso sim é digno de riso e até de dó!

    • O recurso a uma linguagem pseudo metafórica é uma técnica interessante, mas em nada ajuda a distinguir a realidade da ficção. A fidelidade eu entendo, já a defesa de atitudes incapazes não, pois essas é que levam a que se promova a falta de objectividade, a que se perca a noção da opacidade.

      • O recurso à retórica também é interessante mas em nada ajuda a distinguir a ficção da realidade. A fidelidade eu também entendo. A defesa de disparates como “uma vez que é o meu género preferido, mas também porque é um género adequado a alguém da minha idade que ainda não tem muita experiência de vida” também porque já vi como funciona a fantochada que envolve este nicho literário. Nada como atitudes claras para “separar as águas”. Espero que se bata com igual fervor quando alguém disser semelhante disparate sobre a ficção científica. Ser for seu amigo, certamente o fará, mesmo estando a passar um daqueles atestados a si próprio. Se não for, será certamente perseguido, capturado e açoitado em público.

        A integridade é tão bonita!

  7. Almunya diz:

    sempre que há confusão, lá aparece o sr. dom holstein, em todos os palcos, sempre em biquitos de pés, ambicionando ser reconhecido como um líder, o paladino de um grupo. Mas não tem prefil e nem os amigalhaços o levam a sério.

    • Compreendo a frustração, mas não tenho como o ajudar, anónimo almunya. Como vai sendo costume, os covardes escondem-se nas escuras águas de nicks inventados. Quando sair do buraco e depois de tomar um banhito, dê o ar da sua graça que terei o maior prazer em o presentear com o que merece. Será mesmo olhos nos olhos fora do blog.

      • Isto começa a saltar um bocadinho a vedação da minha noção de respeito! Ao contrário de outros, não tenho problemas em censurar comentários. Desaparecem os anónimos e quem pensa que o TTBC serve para combinar duelos atrás de igreja! Entendido?

  8. O que tem que se distinguir, é se lá está ou se se infere. Se claramente o visado não se soube “defender” na resposta que deu, tal facto não legitima o comportamento de quem optou por dar uma de vedeta e se arvorar paladino da fantasia.

    Uma das coisas que mais prezo é a amizade e um comportamento íntegro, pelo que se defende a atitude do perpetrador por ser seu amigo, nada a dizer. Cada um defende os seus como acha melhor.

    Se tiver de vir a terreiro para defender os meus amigos, fá-lo-ei, mas nunca para legitimar disparates, quando estes não resistem a cometer este tipo de imprudências, mas é também claro que apenas os criticarei em privado.

    Se vierem dizer algo similar em relação à ficção científica, terei a mesma atitude, se a situação for a mesma que estou a ver agora. Convém não confundir inabilidade com outras coisas.

    Infelizmente os meios artísticos, ao contrário do que deviam, estão infestados de comportamentos menos capazes.

    Não deixarei de defender fervorosamente, aliás como já faço, aquilo que gosto e em que acredito e reagirei mal ao que me desagrada, independentemente de quem venha. É a vantagem de não ter o rabo preso e de conhecer os amigos.

    • Uma vez apareceu um idiota no Facebook a dizer que em vez de lerem Fantástico, deviam ler obras literárias a sério. Nessa altura fui a única a sair em defesa do género. Não vi lá mais ninguém a fazê-lo, apesar de ser uma mensagem com dezenas de participantes – muitos deles que agora nem disseram nada ou então apareceram como damas ofendidas na sua honra. Não é o meu rabo que está preso. E estou habituada a travar as minhas lutas sozinha. Nunca vou precisar que venham em meu socorro.
      Prometo que da próxima vez que alguém disser disparates, tentarei antecipar-me ao David. Já não haverá a desculpa de “estilo”. Veremos então quem está “connosco” e quem está na “quinta coluna”!

      PS: ninguém deve ter criticado o tal idiota por ele ser amigo de X ou Y. Comigo não funciona assim.

  9. Pingback: (Semanário 100) « Caneta, Papel e Lápis

  10. Joana Cardoso diz:

    Boa tarde!
    Para já tenho que dar os parabéns ao Blog, e a este post. Parecem-me bastante bem conseguidos. =)
    Queria apenas dizer que o que o Fábio disse foi realmente infeliz. Não vou dizer o contrário. Mas também há que ver que admitiu o seu erro, pediu desculpa e justificou-se. Muita gente não se daria ao trabalho e acho que isso por si já abona um pouco a seu favor.
    Quanto ao post do David, ele está certo. Não lhe tiro o mérito ao que disse. Se concordo com a maneira como ele o escreveu? Nem por isso. Há muitas maneiras de se dizer as coisas. Eu consigo dizer que acho que algo é medíocre ou que não presta, e não preciso de ser rude ou cínica ou what ever. Visto que tambem já fui chamada de burra e idiota pelo David sei o que é estar na pele do Fábio.
    Enfim, só acho que o Fábio devia ter mais cuidado e que o David não tinha necessidade de ser tão “agressivo”. Há pessoas que influenciam as massas e transmitem opiniões sem o fazer.
    Cumprimentos

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